quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Segundo Registro: [Fushimi, 1868 - Batalha de Toba-Fushimi]

Por Hajime Saito

"Eu odiava aquela sensação de inutilidade. Estava a quilômetros do campo de batalha, e mesmo assim não podia me envolver. Homura Masato, um dos membros da Armada Milenar, divisão secreta do Shinsengumi, decidiu que seria vital minha presença próximo ao campo de batalha. Eu questionei o porque da necessidade de eu estar perto do campo de batalha, mas não no campo de batalha. Esse embate vai decidir o futuro do Japão, e uma derrota com certeza vai colocar nossa verdade em risco. Homura apenas riu e deu de ombros, balbuciou algo como a nossa derrota já estar definida, o que quase me fez começar uma briga com ele. Só não o ataquei pois logo em seguida ele disse que havia uma batalha muito mais importante, uma batalha pela humanidade como um todo, e que a terceira unidade do Shinsengumi, a minha unidade, era a mais indicada para proteger os inocentes.
Normalmente, um membro da Armada milenar não pode comentar com civis -ou o que eles chamam de civis, o que engloba qualquer um que não seja membro da Armada- os aspectos de seu trabalho. Homura era conhecido por sempre receber represálias dos superiores por não obedecer essa regra. Eu já sabia o que a Armada fazia, em que tipo de batalhas eles se envolviam, mas aquela para qual Homura havia me trazido, seria inacreditável.
Estávamos conversando durante a vigia no acampamento, eu consegui reparar que o quimono branco do Shinsengumi que Homura usava, havia sido lavado muitas vezes num curto período de tempo, e ainda assim havia pequenas manchas de sangue. Dava para perceber que o homem havia se envolvido em uma sequência de batalhas quase ininterruptas. 
Homura era uma pessoa simples, humilde, o que era surpreendente devido a sua linhagem, devido a espada que carregava, e devido a sua posição no Shinsengumi. Ainda me tratava como um superior, da mesma maneira que fazia quando ainda era um mero soldado na décima unidade, a unidade de Harada Sanosuke. Ele me contou que quando a humanidade se envolve em combates violentos e duradouros como a guerra civil que enfrentávamos, era a hora em que os demônios conseguiam inúmeras pontes de acesso para o plano dos humanos. Imagine viver num limbo, num lugar em que pensamentos não existem, em que a existência pode ser colocada em dúvida, e subitamente conseguir uma brecha para escapar, um caminho para um lugar melhor, onde todos os seus desejos reprimidos podem ser explorados. Por isso demônios eram tão perigosos, tão vis e doentios. 
Um soldado de minha unidade questionou Homura quanto as armas utilizadas. Sabia que a Armada havia apreendido alguns mosquetes, e até mesmo uma metralhadora Gatling, capaz de disparar 200 vezes por minuto, e indagava se essas armas não seriam eficazes num embate contra as criaturas de planos inferiores. Homura, mostrando-se muito mais paciente do que eu, explicou que esse tipo de arma não conseguia transmitir a alma de seu portador para o projétil, o que lhe tornava inútil. Não era como o arco e flecha em que havia o contato direto entre homem, arma, e seta, ou como a espada, que era o melhor condutor para a alma do caçador. Não sei porque ri no momento, acreditava piamente que a espada japonesa era a melhor do mundo justamente por ela conseguir transmitir a alma de seu usuário em cada golpe desferido. Talvez eu tenha rido por ainda achar estranho toda essa ideia de caçar demônios. Ou talvez eu tenha ficado nervoso, sabendo agora o motivo de ter sido escolhido para auxiliar a Armada Milenar. Minha alma estava em minha lâmina desde antes de entrar para o Shinsengumi, se a transmissão da alma no golpe era eficaz contra demônios, então eu não tinha nada com que me preocupar.
Nada, além de continuar vivo."


Kijinmaru - A lâmina de Hajime Saito
Kijinmaru significa "Lâmina do Oni", uma espécie de demônio

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